Mar à Pedra

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sábado, 15 de setembro de 2012

O renascimento da Democracia



É com um grande pesar que atesto que a Democracia, nascida após a pseudo revolução  25 de Abril de 1974, está em evidente decadência. Este conceito nado na Grécia Antiga tinha como base converter regimes impositivos, como a Oligarquia e a Ditadura, em algo que privilegiasse a vontade da maioria, ou seja, do Povo.
Muitas estirpes da Democracia foram sendo criadas, sofrendo inúmeras mutações ao longo dos séculos. Apesar disso, o conceito básico de defender os princípios e ideias chave da maioria da população jamais foi, formalmente, adulterado, contudo, nas últimas décadas, tem-se verificado uma subversão do conceito que, abaixo, escalpelizarei mais aprofundadamente.
Em Portugal, como se sabe, a Democracia só chegou, formalmente, em Abril de 1974, desde lá Portugal e os portugueses têm vido a aprender a reconhecer este modelo de gestão do Estado. Os partidos nascidos após a revolução acima citada foram os principais impulsionadores deste regime, como também os principais responsáveis da sua implementação.
Foi, efetivamente, neste ponto que se deu uma adulteração do conceito, já que, ao longo dos últimos anos, deu-se um afastamento dos eleitos em relação ao Povo. Talvez porque as novas gerações, já nascidas após a implementação do sistema democrático, desconhecem as premissas básicas da Democracia ou, então, pretendem ignorar ou subverter. Deixou de se governar para o Povo e isto é o aniquilar da Democracia. O regime atual assemelha-se mais a uma Oligarquia do que a uma efetiva Democracia e é preciso que as instituições políticas o assumam e promovam a necessária aproximação das massas populares.
Deu-se, nos últimos anos, um claro afastamento entre os programas eleitorais e a execução efetiva dos órgãos executivos. Este fenómeno começou a disseminar-se desde a Assembleia da República, sistema democrático nacional, até à democracia descentralizada das autarquias locais. Daí resultaram desvios financeiros gigantescos originados, principalmente, pela ingerência do poder económico no poder político.
Ora, esta filosofia mutante em que as empresas interagem com o Estado, colhendo dividendos, e daí sobejando as dívidas para o Povo provocaram não só uma relação de desconfiança entre Povo e os seus representantes como, nos últimos tempos, uma relação mais perigosa de descredibilização, desprezo e ódio que é importante analisar e erradicar se ainda queremos, nós portugueses, manter este sistema em vigor.
Assim, uma relação de verdade e honestidade é primordial. Importante, também, é fazer com que este sistema não privilegie quem se serve dele, mas sim fazer com que os seus representantes se limitem a servir os interesses do Povo.
Algo que, também, deu origem a esta virtualidade decadente foi a degradação de um pilar fundamental em qualquer regime, principalmente, no regime que se diz democrático. Em Democracia é fulcral a Justiça. Sem Justiça não há Democracia ou, pelo menos, corre-se o risco deste regime se subverter, como penso que ocorreu, na maioria das Democracias modernas. A parcialidade e impunidade evidenciada nos últimos anos deram origem a um aproveitamento de milhares em detrimento de milhões.
Este desequilíbrio financeiro, agora evidenciado, há muito que é apresentado e discutido fora dos meios de comunicação social por membros do Povo, mas sempre abafados pelo poder político e económico, este último, que se enraizou profundamente no Estado, dando origem a uma ocultação da verdade ao Povo pela maioria dos seus representantes.
Esta tão afamada crise, que vivemos em Portugal e no chamado mundo ocidental, é, para além de uma crise económica, uma crise de valores populares, sociais e políticos.
Desta decadência institucional não se pode isentar o formalismo democrático dos partidos políticos que antes de promoverem a Democracia, incentivam o desconhecimento e discussão política no seio dos cidadãos. Só promovem aproximação ao Povo aquando da aproximação dos atos eleitorais e, de seguida, promove um efetivo afastamento que corrói o conceito que aqui disseco: A Democracia.
Assim, compete aos partidos políticos promoverem uma aproximação física dos eleitores e ideológica dos compromissos assumidos perante os seus representados. Caso tal não suceda, antevê-se um distúrbio social iminente.
O mundo mudou! E, obviamente, Portugal não fugiu à regra. Caso os partidos políticos não alterem as suas ações e se não promoverem uma auto-regulação e, já agora, um afastamento efetivo da corrupção, então teremos a lenta destruição da Democracia, como a conhecemos, e entraremos numa escalada já vivida há milénios, em que outros sistemas começam a seduzir o Povo, destruindo o que levou décadas a construir.
O governo oligárquico vigente já caiu, é uma questão de tempo. Cabe a nós portugueses exigir às instituições políticas formais que se organizem e se revitalizem caso contrário será, uma vez mais, o Povo a reciclar o sistema político. A Democracia, a meu ver, é o sistema mais justo e representativo de uma sociedade. Se tiverem dúvidas de como restaurar a Democracia o que deverão fazer é ler os clássicos como Aristóteles e Platão. Lá está tudo o que se precisa saber sobre os vários sistemas políticos e os diferentes conceitos de Estado. É importante que os cidadãos e, em particular, os políticos os leiam. Aguardo, quase desesperadamente, que o façam para bem de todos.
Hoje, 15 de Setembro de 2012, é um dia diferente, é um dia de mudança. O Povo saiu à rua. Espero que seja um dia de mudança positiva. O descontentamento é mais que evidente e a alteração do rumo, até agora tomado, deve ser célere, para o bem de todos e da Democracia que o Povo quer reativar.
Destruir uma sociedade, como tudo na vida, é sempre muito mais simples que edificá-la.
- Leitores, pensem nisto!

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